Muerte en Dos Ríos, obra de Carlos Enríquez, feita em 1952. Fonte: Sociedad Cultural José Martí. Acesso em: 27/09/2021.

Nota sobre o documento

A construção de uma amizade

Martí conheceu Mercado quando de sua chegada ao México em 8 de fevereiro de 1875. Vinha da Espanha, onde realizou seus estudos de Direito, Filosofia e Letras, na Universidade de Zaragoza, durante o período em que lá esteve desterrado.

A amizade entre os dois se aprofundou e consolidou tanto que, ao final de duas décadas, identificava-se por um autêntico sentimento de irmandade.

Compartilhava com o amigo não somente questões de natureza política, como também assuntos pessoais e familiares.

Mercado, em razão de sua posição social e política, foi uma espécie de mecenas para Martí e sua família.

A família de Mercado por sua vez, irmanou-se à família de Martí. Ao se referir a Mercado, Martí em suas cartas dizia “o amigo querido e o irmão querido, queridíssimo, muito querido”.

A escolha do destinatário

Em 15 de abril, Martí foi promovido pelo General Máximo Gómez, Comandante-em-chefe do movimento revolucionário, com a patente de Major General do Exército de Libertação. Talvez o desejo de compartilhar com Mercado a alegria pela promoção militar obtida, tenha motivado a escolha do destinatário.

Um texto inacabado

Martí interrompeu a redação da carta ao amigo, motivado pela chegada repentina do General Bartolomé Masó ao acampamento, situado ao sul da Província do Oriente, acompanhado por sua tropa.

Ao que parece, a interrupção se deu no crepúsculo do dia 18 de maio.

Na manhã do dia seguinte, em combate com os espanhóis, Martí caiu mortalmente ferido.

Aspectos do conteúdo da carta

Mencionou a sua chegada à Ilha, ao lado do General Máximo Gómez e de mais quatro revolucionários, bem como as dificuldades transpostas para, finalmente, organizar o acampamento em Dos Rios.

Esclareceu o modo pelo qual atuava para alcançar as suas metas na guerra de independência cubana.

Reiterou o amor por sua pátria, em particular; e pela “Nuestra América”, em geral.

Compartilhou com o amigo a sua expectativa de que “ainda pode demorar dois meses, para ser real e estável, a constituição do nosso governo, útil e simples.”

Assinalou aspectos pertinentes à organização e ao desenvolvimento do conflito.

Expôs a sua determinação de impedir a anexação de Cuba pelos imperialistas.

Argumentou que a expansão norte-americana sobre as Antilhas e a América Latina seria malograda se a independência de Cuba fosse concretizada naquela oportunidade.

Reafirmou, com veemência, a sua postura anti-imperialista.

A transcendência do texto

Esta carta, em razão do que expressa, é considerada por alguns historiadores como o Testamento Político de Martí.

O patriota cubano enfatiza de início que: “já estou todos os dias em perigo de dar minha vida por meu país e por meu dever (…) de impedir a tempo, com a independência de Cuba, que os Estados Unidos se alastrem pelas Antilhas…”.

A importância da carta está também fundamentada nos objetivos e características do movimento apontados por Martí, além do seu significado inibidor do expansionismo norte-americano sobre a América Latina.

O escrito e o acaso

Morto Martí, a carta foi guardada pelo capitão Enrique Ubieta Mauri, ajudante de ordens do Governador de Santiago de Cuba, que em 1909, a publicou na Revista El Fígaro, momento em que o documento começou a ser conhecido.

Autor: Prof. Dr. Dinair Andrade da Silva

O texto documental “Carta a Manuel Mercado” foi transcrito de MARTÍ, José. Nossa América: Antologia. Seleção dos textos: Roberto Fernández Retamar. São Paulo: Editora HUCITEC, 1991, p. 252-254.

Como citar este post: SILVA, Dinair Andrade da. Nota sobre o documento: Carta de José Martí a Manuel Mercado, 18.05.1895. In: Histórias das Américas. Disponível em: https://historiasdasamericas.com/carta-de-jose-marti-a-manuel-mercado-18-05-1895/. Publicado em: 28/09/2021. Acesso: [informar a data de acesso].

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