América Invertida, desenho de Joaquín Torres García, feito em 1943. Fonte: Wikimedia Commons. Acesso em: 03/07/2021.
Trata-se de roteiro da análise de “América Invertida”, desenho de Joaquín Torres-García feito em 1943.
Imagem como fonte histórica
O roteiro, elaborado pelo Prof. Dinair Andrade da Silva, é dividido em 4 tópicos principais. Os dois primeiros tópicos abordam o entorno da imagem e ela própria. O terceiro tem como objetivo uma discussão acerca da importância da imagem como fonte histórica. E, finalmente, o quarto trata de uma apreciação crítica do trabalho realizado pelo estudante.
Nesta linha de raciocínio, entende-se que, muito mais que um texto escrito, a imagem enseja infinitas leituras, sugeridas pelas relações entre os seus elementos constitutivos. Ler uma imagem significa, portanto, compreender, interpretar, decompor, apreender, descrever, selecionar, reconstruir…
As projeções de Mercator e de Peters
Não há sequer uma evidência de que o Norte deva estar situado na parte de cima de todos os mapas. Provavelmente, os cartógrafos foram reproduzindo, naturalmente e sem nenhum questionamento, a ideia de Gerardo Mercator de situar os países econômico e politicamente dominantes no Norte.
Esta ideia está tão arraigada nos nossos cérebros, nos livros e nas representações cartográficas, que parece ser cientificamente verdadeira e comprovadamente correta, quando na verdade não o é. Se ampliarmos nossas reflexões para o universo, ficaria totalmente sem sentido pensarmos na existência de posições “em cima” e “em baixo”.
A despeito de muitas críticas, a projeção de Mercator ainda é muito utilizada hoje em dia. Esta projeção cilíndrica, sinaliza para um aumento da superfície dos países situados ao Norte, isto é, dos países avançados, e uma diminuição da superfície dos países localizados ao Sul, ou seja, dos países subdesenvolvidos.
Por outro lado, contrapondo-se à projeção eurocêntrica de Mercator, a projeção de Peters tem conquistado algum espaço. O enfoque dela dirige-se aos atuais Estados, anteriormente colônias das potências europeias.
“O Sul é o meu Norte”: a América invertida, 1943
Pelo que expusemos até aqui, temos elementos para alguns questionamentos. Que interesses envolvem cada uma destas projeções? Quais seriam os objetivos dos mapas? De que modo ou modos os continentes poderão também ser representados?
Ponto de partida: esta representação da América do Sul é uma obra de arte. Significados e reflexões: a análise deverá ser feita levando em consideração o seu entorno, isto é, o artista, o conjunto da sua produção, o contexto e, além disso, o exame a obra em si mesma.
Retornando a Montevidéu por volta de 1930, da sua longa vivência pela Europa, Torres-García desejou romper com os parâmetros artísticos do Velho Continente, construindo na sua terra natal um movimento cultural e artístico próprio.
Escuela del Sur
Com a proclamação do Manifesto da Escola do Sul, o Autor defende que o “nosso Norte é o Sul”. E prossegue: “Não deve haver norte, para nós, senão por oposição ao nosso Sul.” Nesta linha de raciocínio, Torres-García concebeu o mapa da América do Sul de modo inverso, afirmando ser esta a ideia adequada da posição dos sul-americanos.
Esta inversão geográfica do mapa deve ser identificada como uma forte crítica do Autor à hegemonia nortista sobre os países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento.
No seu livro Universalismo constructivo, Torres-García defende e valoriza uma arte caracteristicamente latino-americana, com a inclusão de elementos culturais das Sociedades Originárias.
Nesta perspectiva, a América invertida de Torres-García é a marca de uma nova identidade cultural e artística da América Latina. Uma crítica contundente de que tudo de melhor se encontra no hemisfério norte, e que os sul-americanos devem imitar.
O seu livro desenvolve uma linguagem estética forjada a partir da síntese do expressionismo, do surrealismo e do abstracionismo. O cruzamento de duas linhas – uma vertical e outra horizontal – simbolizariam as oposições espírito e natureza, concreto e abstrato.
Perfil biográfico de Torres-García
Joaquín Torres-García nasceu e morreu em Montevidéu (1874-1949). Foi professor, escritor, escultor, desenhista e pintor.
Em 1891 viajou para Europa fixando-se na Catalunha – Mataró e Barcelona – onde, por longo tempo viveu, mantendo permanente contato com a vanguarda artística e intelectual da época.
Em 1917 publica Descobrimento de si mesmo, obra que teve significativa projeção. No início da década de 1920, viveu em Nova York confeccionando brinquedos de madeira. Entre 1926 e 1932 viveu em Paris, convivendo com importantes nomes da arte de então.
No início da década de 1930 retornou ao Uruguai. Naquele período, criou seu próprio estilo que se tornou conhecido, inclusive, em outros países da América do Sul.
Autor: Prof. Dr. Dinair Andrade da Silva
Elaborado com base em: “América Invertida”. Autor: Joaquín Torres García. Data: 1943. Desenho a caneta e tinta. Localização: Museo Nacional de Artes Visuales, em exibição no Museo Municipal de Bellas Artes Juan Manuel Blanes, na qualidade de obra emprestada, desde os meados dos anos 1970, Montevidéu, Uruguai.
Como citar este post: SILVA, Dinair Andrade da. Roteiro de análise de fonte primária – América Invertida. In: Histórias das Américas. Disponível em: https://historiasdasamericas.com/america-invertida/. Publicado em: 21/09/2021. Acesso: [informar a data de acesso].
Excelente trabalho. Estou amando visitar o conteúdo de História das Américas. Na minha época de faculdade as cadeiras que eu mais gostava era istória das Américas e Teoria da História.
Fico contento em ler o seu comentário, que é um grande estímulo para o desenvolvimento das nossas atividades. Um abraço, Prof. Dinair.