Posse de Washington para seu segundo mandato, em 1793. Obra de Jean Leon Gerome Ferris, sem data. Fonte: Wikimedia Commons. Acesso em: 31/10/2021.

Nota sobre o documento

A lenta construção do texto

Este discurso não foi lido pelo autor. Mas, no dia 19 de setembro de 1796 foi publicado, pela primeira vez, no periódico Daily American Advertiser, de Filadélfia, cerca de dois meses antes das eleições presidenciais, que se realizaram naquele ano. Em seguida, foi reimpresso em quase todo o país em periódicos e sob a forma de panfleto.

Em junho de 1792, Madison elaborou uma versão desta despedida, posto que o presidente pretendia se retirar da vida política ao concluir o seu primeiro mandato. No entanto, as tensas relações entre Republicanos e Federalistas, transcendendo às questões internas, levaram os dois partidos a se posicionar diante das lutas entre a França (por onde inclinaram os Republicanos), e a Inglaterra (por onde penderam os Federalistas), encorajaram Washington a disputar mais um período de governo.

Contudo, em 1796 ao concluir o seu segundo mandato, Washington retomou o antigo rascunho, atualizando-o com a participação de Hamilton, recusando a possibilidade de disputar um novo período de governo.

A defesa da unidade nacional e um olhar cauteloso sobre partidos políticos

Por meio do texto, os cidadãos foram alertados acerca dos riscos políticos que deveriam evitar para garantir a manutenção dos seus princípios e valores.

Manifestou expressamente a necessidade da preservação da unidade nacional, rechaçando todo e qualquer argumento com objetivos secessionistas. Alertou para os possíveis ataques, internos e externos, à união dos Estados, criada pela Constituição Federal.

Fez uma defesa intransigente da Carta Magna e de sua observância. Admitiu emendas, desde que sistematicamente refletidas e efetuadas quando necessárias; mas, nunca a serviço de casuísmos e interesses momentâneos de facções políticas.

Washington manteve-se arredio aos partidos políticos. Acreditava que eles poderiam polarizar e ampliar as tensões nacionais, promovendo tumultos e insurreições. Todavia, admitiu que era natural que as pessoas se organizassem em grupos ou partidos. No exercício do poder, o Presidente procurou manter-se sempre acima dos interesses partidários.

A religião e a moralidade como fundamentos do cotidiano doméstico e das relações internacionais 

Dedicou espaço significativo do seu texto, discorrendo sobre a necessária e pertinente conexão da religião e da moralidade com a prática política doméstica e externa. Afirmou que neste contexto residia a felicidade tanto pública quanto privada. Para ele, a religião era o fundamento da moralidade pública.

Recomendou o equilíbrio do orçamento federal. E na hipótese de se recorrer a empréstimos, por fortes razões justificadas, estes deveriam ser ressarcidos o mais rapidamente possível. Para tanto, conclamou os cidadãos a efetuarem o pagamento dos impostos devidos.

No âmbito das relações exteriores, retomou as suas ressalvas face às alianças permanentes e reiterou a defesa da boa-fé e da justiça no trato para com a comunidade internacional. Neste sentido, insistiu na inserção da religião e da moralidade como ingredientes indispensáveis ao bom funcionamento das relações internacionais. O Presidente foi francamente favorável ao incremento do livre comércio com todas as nações, colocando sobre o governo a responsabilidade pela defesa dos direitos dos comerciantes dos Estados Unidos.

É interessante notar que as recomendações de Washington contrárias à manutenção de alianças permanentes com nações estrangeiras tiveram fortes repercussões na política externa do país. Ressalta-se que somente em 1949 firmou-se a primeira aliança permanente, com a assinatura do Tratado do Atântico Norte.

Rascunho de Hamilton – Discurso de Despedida de Washington. Fonte: Library of Congress. Acesso em: 01/11/2021.

Um tributo ao herói nacional

Finalmente, acrescenta-se que desde quando se comemorou o 130º aniversário natalício de Washington, em plena Guerra Civil, em 1862, o seu Discurso de Despedida é lido anualmente, em Sessão Solene, no Senado da República.

Discurso de Despedida de Washington. Fonte: Library of Congress. Acesso em: 01/11/2021.

Transcrição do texto documental

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Autor: Prof. Dr. Dinair Andrade da Silva

O texto documental foi transcrito de MORRIS, Richard B. Documentos básicos da História dos Estados Unidos. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura, 1964, p. 90-99. O texto pode ainda ser encontrado no trabalho organizado por Harold C. Syrett, intitulado Documentos Históricos dos Estados Unidos, publicado em São Paulo pela Editora Cultrix em 1980, às páginas 109 a 116.

Como citar este post: SILVA, Dinair Andrade da. Nota sobre o documento: Discurso de Despedida de Washington, 17 de setembro de 1796. In: Histórias das Américas. Disponível em: https://historiasdasamericas.com/discurso-de-despedida-de-washington-17-de-setembro-de-1796/. Publicado em: 02/11/2021. Acesso: [informar a data de acesso].

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