Boa noite, vamos iniciar a aula!
A estrada da vida, Hieronymus Bosch, cerca de 1516.
Fonte: Wikimedia Commons. Acesso em: 04/06/2021.
Pelos corredores da minha memória
A sirene soou… Foi na noite do dia 26 de agosto de 1968. Entrei na sala de aula.
No momento em que ponho no papel as lembranças destes eventos pessoais, que envolveram tão intensamente a minha vida, recordo, prazerosamente, que eles ocorreram há mais de meio século. Cinquenta anos passaram tão rapidamente; e a alegria que sinto por tudo o que aconteceu naquela época, me deixa muito feliz.
E é por esta razão que “Penso nos dias de outrora, [e] trago à lembrança os anos de tempos passados”, como disse Asafe, dirigindo-se ao músico levita Jeduntum, Mestre de Canto. (Salmos 77:5).
Complemento com a fala do velho profeta nascido em Anatote, onde seu pai, o sacerdote Hilquias, foi desterrado por ordem do rei Salomão. Escreveu Jeremias, que faleceu no Egito em 586 a. C. “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança.” (Livro das Lamentações 3:21). Eu acrescento: … e alegria.
Meus primeiros encontros com a docência ocorreram em Goiânia, nos tempos da minha formação universitária e no ano seguinte à minha formatura. Esta experiência abarcou os primeiro e segundo ciclos de estudos e o nível superior.
Identificação dos fatos
Integrei o quadro de professores dos seguintes estabelecimentos de ensino: Colégio José de Alencar, Colégio Dom Bosco, Ginásio Estadual “Assis Chateaubriand”, Instituto Paulo VI, Colégio de Aplicação, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da Universidade Católica de Goiás.
Foram seis instituições de ensino. Quatro privadas, duas públicas. Cada uma com suas características e peculiaridades. Em cada instituição, uma distinta atuação minha. Colecionei uma pluralidade de experiências. Farei um breve relato de cada uma por meio de uma sequência de posts neste “Espaço da Memória”.
Os relatos estão fundamentados nos resíduos do passado que foram conservados. Alguns destes resíduos, testemunhos de época, eu utilizei como imagens dos posts. Eles se prestam a ilustrar e a documentar informações explicitadas nestes meus textos.
A extração da pedra da loucura, Hieronymus Bosch, entre 1494 e 1516. Fonte: Wikimedia Commons. Acesso em: 04/06/2021.
O ilusionista, Hieronymus Bosch, entre 1496 e 1520. Fonte: Wikimedia Commons. Acesso em: 04/06/2021.
Dos fatos à teoria
Encontro-me com um modo recente de se escrever a História. Os relatos estão carregados de memória, que vão se esmaecendo e sendo recriadas no transcurso do tempo. História e Memória: uma relação entre tempo e espaço; entre o que foi e o que parece ter sido. A tradição das lembranças… Uma narrativa que não se reduz ao mero descrever; mas, uma narrativa densa, muito valorizada, hoje em dia.
No entanto, no âmbito desta multiplicidade de lembranças, um eixo comum: a confiança e a inexperiência do jovem e do professor…
O mundo e os homens de cabeça para baixo
1968-1971. Tempos de turbulências políticas, sociais e pessoais.
Estes foram também tempos de superação e de expectativa. De um jovem atormentado que, por acaso, fez o curso de História. Cujas circunstâncias pessoais, sinalizavam para um quadro muito reduzido de possibilidades de realizações… O que na prática, felizmente, não se concretizou!
Pareceu-me, sobremodo importante, contextualizar estes meus primeiros encontros com a docência. Eles ocorreram num quadro muito rico de transformações globais, nacionais e pessoais.
Como estava o mundo, o Brasil, o meu entorno e eu, quando da minha inserção nas atividades de sala de aula?
O inferno, painel direito que integra O jardim das delícias terrenas, Hieronymus Bosch, entre 1490 e 1500. Fonte: Wikimedia Commons. Acesso em: 04/06/2021.
As imagens utilizadas para ilustrar este post foram produzidas por Hieronymus Bosch, pintor holandês nascido em Hertogenbosch. O período que viveu, cerca de 1450-1516, foi de intensas transformações artísticas, culturais e científicas.
Este é o primeiro post de uma série de registros de minhas lembranças dos meus primeiros encontros com a docência que ocorreram entre os anos de 1968 e 1971, em Goiânia.
Como citar este post: SILVA, Dinair Andrade da. Soou a sirene… As aulas vão começar! Lembrança 1 – Boa noite, vamos iniciar a aula!. In: Histórias das Américas. Disponível em: https://historiasdasamericas.com/soou-a-sirene-as-aulas-vao-comecar-lembranca-1/. Publicado em: 08/06/2021. Acesso: [informar a data de acesso].
Uau. O antropólogo Tião Rocha fala da importância da nossa história. Mais importante que qualquer outra história. E não é mesmo? Não é com nossa história individual que estamos contribuindo pra história do mundo? Que alegria poder conhecer um pouco mais da sua história: tão rica, tão poética, tão forte e sempre serena.