Trata-se de uma representação da cidade de Tenochtitlán e da região da costa do Golfo do México, provavelmente preparada no período da conquista, por algum natural da região ou por algum espanhol. Fonte: Wikimedia Commons. Acesso em: 18/10/2021.

Nota sobre o documento

O texto

Trata-se de um fragmento da Segunda Carta de Cortez enviada ao Imperador Carlos I, datada de 30 de outubro de 1520.

Há um consenso entre os especialistas de que o conquistador espanhol enviou a Carlos I cinco cartas-relatórios, descrevendo detalhadamente suas atividades, desde fevereiro de 1519 quando zarpou de Havana em direção à Península de Yucatán até a conquista da Confederação Asteca, efetivada dois anos depois.

O relato do capitão é minucioso, preciso e de uma concretude assombrosa. Tão aterrorizante quanto à sua personalidade, tal como é descrita por seus biógrafos.

O fragmento apresentado oferece elementos para o exame múltiplos aspectos relacionados a Montezuma como homem e como governante da Confederação Asteca.

Além disso, possibilita distintas análises sobre a cidade de Tenochtitlán, permitindo configurar tópicos como os seguintes: Perfil arquitetônico da cidade; Economia e atividades produtivas; Religião, clero e prática religiosa; Sociedade e estratificação social; Estado e relações de poder; Transporte e abastecimento urbano.

O autor

Hernán Cortez (1485-1547) frequentou a Universidade de Salamanca por dois anos e abandonou os estudos para ingressar na carreira das armas.

No entanto, com certeza, a passagem dele por Salamanca aguçou a sua capacidade de observação, desenvolvimento do raciocínio e desenvoltura na arte da escrita.

As crônicas da conquista registram que Cortez fazia-se acompanhar de cerca de quatrocentos homens, dezesseis cavalos, trinta e duas escopetas, quatro canhões e milhares de naturais, sendo a maioria da etnia Tlascalteca.

Em 6 de julho de 1529, Carlos I o nomeou Marquês do Vale de Oaxaca, época do seu maior reconhecimento pela monarquia. Contudo, a sua atuação esteve sempre envolta por ressalvas da administração do reino, manifestadas, por exemplo, pelo Conselho Real e Supremo das Índias.

O crivo da crítica

“Não pudemos entender a fala deles nem os ouvir direito por causa do mar que quebrava na costa”. (Trecho da carta de Pero Vaz de Caminha ao rei Manuel I sobre a existência do Brasil) Na verdade, uma reflexão coerente permite entender que a não compreensão mencionada por Caminha estava muito mais vinculada aos distintos idiomas que se falavam do que ao barulho do mar.

Da mesma forma, Cortez e Montezuma também falavam idiomas diferentes. Os registros inerentes à realidade material tributam-se à agudeza de espírito e capacidade de observação do conquistador.

Nesta mesma linha de raciocínio, a reprodução de valores e as ideias obtidas por meio das manifestações orais de Montezuma merecem extremas reflexões.

Faz-se necessário esquadrinhar o mundo mental e a capacidade de reflexão de Malinche (ou Doña Marina), intérprete do Capitão. Mesmo considerando a sua condição de falante de três idiomas da região e de certo conhecimento do castelhano, conforme registro dos cronistas da conquista.

A visão de mundo de Cortez, seus parâmetros mentais e o próprio sentido da vida estão enquadrados no segmento da sociedade de Castela, a qual ele pertenceu. E, dentro deste contexto, é que ele fez seus registros.

Desse modo, não é exagero dizer que houve o encontro de dois mundos. Talvez pode-se pensar, até mesmo, no encontro de mais mundos. O pesquisador, portanto, deve estar atento e fazer o esforço necessário para não se deixar levar por interpretações eurocentristas quando da leitura e da análise da fonte histórica.

Entrada de Cortés no México, 8 de novembro de 1519, Kurz & Allison, sem data. Fonte: Library of Congress. Acesso em: 18/10/2021.
Esta imagem tornou-se um dos símbolos do encontro entre a Espanha e a América. Cortez e Montezuma se colocam um diante do outro, na calçada que dava acesso à entrada principal da cidade de Tenochtitlán.

Algumas referências para análise da fonte histórica

BAUDOT, Georges; TODOROV, Tzvetan (orgs.). Relatos astecas da conquista. São Paulo: Editora UNESP, 2019.
BETHELL, Leslie (org.). História da América Latina. vol. 1: A América Latina colonial. São Paulo: EDUSP; Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 1997.
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LEÓN-PORTILLA, Miguel. A visão dos vencidos: a tragédia da conquista narrada pelos astecas. Porto Alegre: L & P M, 1985.
______. Hernán Cortés y la Mar del Sur. Madrid: Ediciones Cultura Hispánica, 1985.
LODI-RIBEIRO, Gerson. Xochiquetzal: uma princesa asteca entre os incas. São Paulo: Editora Draco, 2009. (Trata-se de ficção especulativa)
MADARIAGA, Salvador de. Hernán Cortés. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1991.
MORAIS, Marcus Vinícius de. Hernán Cortez: civilizador ou genocida? São Paulo: Editora Contexto, 2011.
OBREGÓN, Marco Antônio Cervera. Breve história dos astecas. São Paulo: Versal Editores, 2014.
OBREGÓN, Toríbio; ZAVALA, Sílvio. Hernán Cortés y el Derecho Internacional en el siglo XVI / Hernán Cortés ante la justificación de su conquista. México: Editorial Porrua, 2009.
SOUSTELLE, Jacques. A civilização asteca. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002.
______. A vida quotidiana dos astecas nas vésperas da conquista espanhola. Belo Horizonte: Itatiaia, 1962.
______. Os astecas na véspera da conquista espanhola. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
TODOROV, Tzvetan. A conquista da América: a questão do outro. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

Autor: Prof. Dr. Dinair Andrade da Silva

O texto documental foi transcrito de CORTEZ, Hernán. A conquista do México. 2ª ed., Porto Alegre: L&PM Editores, 1986, p. 38-48. O texto completo desta Segunda Carta de Cortez enviada a Carlos I está inserido na obra acima mencionada às páginas 28 a 63.

Como citar este post: SILVA, Dinair Andrade da. Nota sobre o documento: fragmento da Segunda Carta de Cortez enviada ao Imperador Carlos I, datada de 30 de outubro de 1520. In: Histórias das Américas. Disponível em: https://historiasdasamericas.com/um-olhar-de-cortez-sobre-montezuma-e-tenochtitlan/. Publicado em: 19/10/2021. Acesso: [informar a data de acesso].

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